Volta ao mundo

Brasileiro dá volta ao mundo em 10 meses e conta sua experiência

20/02/2019 11:47

O carioca Alexandre Pinto acabou de dar sua volta ao mundo. Depois de conhecer inúmeros países, ele resolveu se dar uma “mini-aposentadoria” e realizar o sonho de viajar pelo mundo. E para compartilhar essa experiência, ele criou o blog Cinco Cantos do Mundo e uma conta no Instagram, onde compartilhava fotos e dicas dessa viagem. A pedido do Voopter, ele escreveu um relato sobre essa experiência, como se planejou, quanto gastou, além é claro dos pontos altos e perrengues.

Quer saber como foi essa experiência? Então confira o relato abaixo!

“Há muito tempo sonhava em fazer uma viagem de Volta ao Mundo. Nunca vi muito sentido em trabalhar a vida inteira para desfrutar da aposentadoria somente na terceira idade, quando você já terá muito menos disposição para curtir a vida, e possivelmente terá que lidar com problemas de saúde. Li uma vez um artigo que mudou minha forma de pensar a respeito disso. O autor defendia nele que o tempo é o nosso ativo mais precioso, e que faz muito mais sentido as pessoas tirarem mini-aposentadorias ao longo da vida em vez de esperar uma vida inteira para fazer isso. O ideal é se aposentar por um ano a cada 10 ou 15 anos, dependendo do planejamento financeiro de cada um. Em 2018 encontrei o momento ideal para tirar a minha primeira mini-aposentadoria. Estava trabalhando numa empresa por 12 anos sem perspectivas de crescimento profissional, e já estava com planos de ir morar no exterior. Quando meu visto de residente permanente da Austrália saiu, encontrei o momento ideal para fazer a Volta ao Mundo antes de me mudar de vez do Brasil. Vendi tudo que tinha: carro, móveis, eletrodomésticos, eletrônicos. O pouco que restou ficou encaixotado na casa dos meus pais. A parte mais difícil foi arrumar coragem para pedir demissão sem ter outra oportunidade profissional em vista. Como eu trabalhava numa empresa privada, não existia a possibilidade de tirar uma licença não remunerada para poder viajar. Eu já havia juntado dinheiro durante muitos anos, e ajudou muito o fato de eu não ter nenhuma dívida, ser solteiro e não ter filhos. Ou seja, durante a viagem eu não teria nenhuma despesa fixa no Brasil.

Planejamento


Alexandre Pinto durante jogo do Brasil na Copa

Comecei a planejar a viagem com 7 meses de antecedência, em julho de 2017. Comecei escolhendo a data de partida. Escolhi o final de fevereiro, um mês depois da minha demissão, para dar tempo de vender minhas coisas e organizar a viagem com mais calma. Decidi que a viagem seria um pouco mais curta, de 10 meses em vez de 1 ano, para que eu pudesse passar o Natal e o réveillon no Brasil. O passo seguinte foi decidir em que ordem eu visitaria os continentes, de forma que eu evitasse o frio intenso do inverno no hemisfério norte e a época de chuvas no Sudeste Asiático. Além disso, eu queria estar na Rússia durante a Copa do Mundo.

Decidi que o roteiro macro seria:  1 semana na África do Sul, 3 meses no Sudeste Asiático, 1 semana na Austrália, 1 mês na Rússia, 3 meses na Europa, 1 mês na América do Norte/Central e 1 mês na América do Sul. Para cada continente fiz uma lista de todos os países que eu queria visitar e tentei encaixá-los num roteiro de 10 meses. A lista, óbvio, ficou grande demais e tive que cortar muita coisa. Resolvi então montar um roteiro de 5 meses até a Copa da Rússia, e posteriormente, durante a viagem, eu planejaria o restante. Comecei viajando, portanto, sem ter uma data específica de retorno.

O viajante rodou 31 países, entre eles Coreia onde parou em Seul – Foto: Alexandre Pinto

É muito libertadora a sensação de viajar sem ter uma passagem de volta. Detalhei mais o roteiro escolhendo as cidades que eu queria visitar em cada país, e em outubro de 2017, 4 meses antes da viagem, comprei a primeira passagem, Rio-Cidade do Cabo. Nos 3 meses seguintes fui comprando as demais passagens aéreas e reservei hospedagem para o primeiro mês. Em junho, quando eu estava na Austrália, resolvi planejar o restante da viagem. Escolhi a data da volta: 19 de dezembro. Para isso, tive que cortar a América Central do roteiro. Escolhi todas as cidades que queria visitar de julho a dezembro e comprei as passagens aéreas. Foram no total 45 vôos, a grande maioria em empresas aéreas Low Cost. A hospedagem eu ia reservando aos poucos, com 2 semanas a 1 mês de antecedência.  

Na maior parte do tempo me hospedei em hostels ficando em quartos compartilhados, mas às vezes ficava em hotéis em quarto privados, principalmente em países baratos como Albânia e Bulgária. De tempos em tempos eu precisava de um pouco de privacidade. Ficar o tempo todo em hostel pode ser um pouco cansativo. A grande vantagem de ficar em hostel é que fica muito mais fácil fazer amigos. Para quem está viajando sozinho, isso faz toda a diferença. Quase todo mundo que se hospeda em hostels também está viajando sozinho. Ficando em hotel eu diria que isso é praticamente impossível.

31 países em 10 meses

Estrada vazia em meio à Patagônia argentina – Foto: Alexandre Pinto

Passei no total por 31 países e 76 cidades nesta ordem: África do Sul (Cidade do Cabo e Joanesburgo), Filipinas (Manila, El Nido, Boracay), Tailândia (Koh Phi Phi, Chiang, Mai, Bangkok), Laos (Luang Prabang, Vang Vieng, Vientiane), Mianmar (Yangon, Bagan, Mandalay), Vietnã (Hanoi, Hue, Hoi An, Ho Chi Minh City), Indonésia (Bali, Nusa Lembongan, Nusa Penida, Gili Trawangan) , Austrália (Darwin), Malásia (Kuala Lumpur), Coréia do Sul (Seul), Rússia (Moscou, São Petersburgo, Samara, Kazan), Portugal (Porto, Lisboa, Óbidos, Évora), Espanha (Madri, Sevilha, Cádiz, Córdoba, Granada, Málaga), Romênia (Bucareste, Brasov, Sighisoara), Bulgária (Varna, Veliko Tarnovo, Provdiv, Sófia) , Macedônia (Skopje, Orhid), Albânia (Tirana, Berat, Girokaster, Ksamil), Montenegro (Budva, Kotor, Podgorica), Eslovênia (Bled, Ljubljana), Itália (Veneza), Malta (Valletta, Comino, Gozo), Escócia (Glasgow, Edimburgo), Irlanda (Dublin, Galway), Islândia (Reykjavik), EUA (Boston, Nova York), México (Oaxaca, Puebla, Cidade do México), Peru (Lima, Ica), Chile (Santiago, Puerto Varas, Punta Arenas, Puerto Natales, Torres del Paine), Argentina (El Calafate, El Chaltén, Buenos Aires) e Uruguai (Colonia del Sacramento, Punta del Este, Montevidéu).

Dos 10 meses que passei viajando, passei 60% do tempo sozinho e no resto eu estava com amigos do Rio que foram me encontrar. Encontrei também meus pais e minha irmã no meio da viagem em Portugal.

Toda viagem é um projeto e para isso precisa ter um orçamento. Eu havia lido vários blogs de gringos que gastaram em média US$25 mil por ano, ou seja, cerca de US$68 por dia. Mesmo tentando economizar ao máximo, acabei gastando bem mais: US$87,45 por dia. Neste valor estou considerando TUDO: hospedagem, passagens (avião, ônibus e trem), alimentação, seguro de viagem, transporte urbano, taxas de visto, saídas à noite, excursões, ingressos de atrações turísticas, souvenirs, compras e ingressos de 3 jogos do Brasil na Copa da Rússia. O controle dos gastos foi um grande desafio. No final de cada mês eu fazia as contas para ver quanto eu havia gasto. Era uma contabilidade mais macro mesmo: eu verificava quanto eu havia sacado das minhas contas, quanto havia gasto no cartão de crédito, quanto tinha antes em cash e quanto tinha sobrado.  Os saques eu fazia no LeoPay (um wallet em euros) e numa conta que tenho num banco australiano para evitar o IOF dos saques nos bancos brasileiros. Não dava para levar milhares de dólares no bolso para a viagem inteira, por uma questão de segurança.

Os países mais caros que visitei nessa viagem foram Islândia, EUA, Irlanda, Escócia e Austrália, e os mais baratos foram Vietnã, Indonésia, Myanmar, Laos e Tailândia. O ideal é mesclar países baratos e caros para que o orçamento não fique comprometido.

Essa viagem foi sem dúvida a maior aventura da minha vida. Superou todas as minhas expectativas. Eu estava inserido até o último fio de cabelo numa imensa zona de aprendizado. Passei meses sem saber o que era zona de conforto. Eu estava exposto a todas as possibilidades aleatórias que o mundo proporciona. A sensação que tive é que o tempo passava mais devagar que o normal quando temos uma rotina casa-trabalho-casa. Os dias eram todos diferentes e intensos. Conheci pessoas incríveis, passei por lugares maravilhosos, e vivi momentos que jamais vou esquecer. Participei de diversos festivais, como a Feria de Málaga; o ano novo birmanês; o ano novo tailandês; Notte Bianca em Malta; Halloween em Nova York; Festival de Hue; e o Dia de Los Muertos, no México. O ponto alto da viagem, sem dúvida, foi a Copa da Rússia. Passei 35 dias incríveis no país e assisti a três jogos da seleção brasileira: Brasil x Costa Rica, Brasil x México e Brasil x Bélgica.

Além da Rússia, os outros pontos altos da viagem foram:

Bali: um destino fantástico, muito melhor que eu imaginava. Praias lindas, vida noturna, picos de mergulho, trekking em vulcões, vilarejos com templos hindus.

Patagônia: Torres del Paine e El Chaltén são a meca mundial dos trekkers. Paisagens alucinantes. O glaciar Perito Moreno é algo surreal.

Coréia do Sul: Seul é uma cidade incrível, que me lembrou muito Tóquio. Parece uma viagem para o futuro. Tudo muito moderno. A cidade tem muita coisa legal para oferecer.

Islândia: paisagens alucinantes, lagoas com águas termais, praias com areia vulcânica, geysers

Malta: praias com mar azul turquesa, clima agradável e ensolarado mesmo no início de outubro, muita história, ruínas de 5000 anos atrás, museus interessantes, vilarejos medievais.

Momentos marcantes

Policial cantor, em Boston, foi um dos momentos considerados marcantes da viagem – Foto: Alexandre Pinto

Lógico que teve muito mais que isso. O que não falta é história para contar. Algo que me marcou muito foi a alegria dos habitantes de Myanmar, um dos países mais pobres do mundo. As pessoas pareceram muito felizes lá, mesmo vivendo em condições difíceis, e isso pode ter a ver com a fé profunda que eles têm. É o país mais religioso que já vi. A religião predominante lá é o budismo. O turismo é algo relativamente recente no país, que até pouco tempo atrás era governado por um ditador socialista e era uma espécie de Coréia do Norte, um dos países mais fechados do mundo. Os turistas só começaram a chegar pra valer a partir de 2012 com a introdução do E-visa. Os ocidentais ainda são vistos com muita curiosidade pelos locais. Muitas pessoas me olhavam na rua como se eu fosse o ET de Varginha (risos), e algumas se aproximavam pedindo para tirar selfies comigo.

Um outro momento que nunca vou esquecer foi em Boston. Estava andando por umas ruas do centro da cidade. Era uma noite fria as ruas já estavam meio vazias. Parei para ver uns artistas de rua tocando rock. Era uma bandinha muito boa que estava tocando Pearl Jam. Apareceram várias pessoas que fizeram uma roda ao redor deles. De repente uma viatura da polícia parou ao lado deles e desceu um policial. Ele se aproximou e começou a conversar alguma coisa com os artistas, que pararam de tocar. Todo mundo já estava achando que o policial estava ali para proibir os artistas de tocarem na rua ou algo assim. Mas a grande surpresa foi quando o policial pegou o microfone e começou a cantar um blues. E que voz! Parecia coisa do American Idol. Ficou todo mundo de boca aberta, até mesmo os artistas de rua. O policial foi aplaudido intensamente e as pessoas simplesmente não queriam deixá-lo ir embora, pedindo um bis. Sensacional.

Comidas e bebidas

A comida portuguesa está entre os pratos mais deliciosos experimentados na viagem – Foto: Alexandre Pinto

Viajar também significa entregar-se a novos paladares, e tive experiências gastronômicas fantásticas. Os países onde comi melhor foram:

México: a comida mexicana lá é MUITO melhor que a que conhecemos no Brasil. Fiquei maravilhado com o que vi. Me esbaldei nos tacos, burritos, enchilladas e quesadillas. As tortilhas, a carne e o queijo que eles usam são diferentes, muito mais saborosos. E os restaurantes são super baratos.

Portugal: gastronomia fantástica com preços justos. Passei 2 semanas lá e comi bem todos os dias. Os frutos do mar, carnes e doces são muito bons.

Peru: comi os melhores ceviches da minha vida em Lima. Também gostei muito das “causas” (umas batatas pequenas com recheio) e do “ají de gallina” (frango com batata e molho picante)

Tailândia: o pad thai, prato nacional feito com noodle de arroz, broto de bambu e amendoim, é uma delícia. É vendido por todos os lados lá e é bem barato.

Itália:  em Veneza comi umas massas maravilhosas, mas bem caras.

Imprevistos e perrengues
Rua deserta e “bizarra”, segundo o viajante – Foto: Alexandre Pinto

É claro que também passei por alguns imprevistos e perrengues. Eles sempre acontecem em viagens por mais que você se planeje e tente mitigar riscos. Por exemplo, tive 5 intoxicações alimentares ao longo destes 10 meses. Realmente difícil se prevenir contra isso, mesmo evitando comida de rua. Mas não foi nada sério. Nada que alguns comprimidos de Floratil não resolva. O pior imprevisto foi ter minha GoPro roubada num hostel em Málaga, na Espanha, enquanto eu estava dormindo. Eu não tinha backup de parte das fotos e vídeos, e fiquei arrasado. Também passei por momentos de tensão no centro de Joanesburgo a noite, um lugar macabro, muito mais perigoso que eu imaginava. Eu estava numa estação de trem tentando pegar um Uber para o meu hostel, mas os motoristas só podiam parar a 3 quadras de distância. Os seguranças da estação alertaram que eu seria assaltado se saísse da estação a pé. De fato, já havia percebido alguns elementos me observando do outro lado da rua. Não havia ponto de táxi em frente a estação. Tive que pedir ajuda a um dos seguranças para ir me escoltando até um dos táxis. O motorista era bem esquisito e fiquei com muito medo de acontecer alguma coisa comigo. O caminho até o hostel parecia coisa de filme “Chicago anos 70”, com lixeiras pegando fogo, ruas imundas, walking deads e gangues nas esquinas observando os carros passando. Quando cheguei no hostel, veio a segunda parte do perrengue: já passava das 21h e não havia mais nenhum restaurante ou lanchonete aberto, nem mesmo para delivery. Joanesburgo a noite é uma cidade fantasma. Meu jantar foi um pacote de batatas Ruffles que comprei no hostel.

Em resumo, uma viagem de Volta ao Mundo é uma experiência transformadora, que vale cada centavo investido. Aprende-se muito sobre o mundo, abre-se a mente, e as lembranças gostosas ficarão para o resto da vida.

Tenho um blog (http://cincocantosdomundo.wordpress.com) onde conto mais alguns detalhes sobre a viagem, e uma conta no Instagram (@cincocantosdomundo)  com fotos e dicas de todos esses lugares por onde passei.

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