A República Tcheca é uma excelente opção de viagem para quem gosta de cultura, história e muita, muita cerveja. Sim, nos 10 dias que passei por lá estive em quatro cidades (Praga, Cesky Krumlov, Pilsen e Karlovy Vary) e, em todas elas, esses três “ingredientes” estavam presentes a todo momento, formando uma receita perfeita para quem busca uma viagem inesquecível. E, o melhor, comparada com outros destinos da Europa, por lá os preços são bem menos salgados. Para começar, a moeda não é o Euro, e sim a Coroa Tcheca (CZK), com câmbio favorável para nós, ou seja, R$ 1 equivale a CZK 5,3. Calma, isso não quer dizer que tudo custa uma pechincha, mas os preços são equivalentes ao que pagamos por aqui. E aí, ficou animado? Então partiu Praga, capital da República Tcheca, às margens do Rio Vltava.
Rumo ao Castelo de Praga
Dizem que a história de Praga começa pelo Castelo de Praga, que aparece no Livro dos Recordes como o maior do mundo. Nada mais justo então que o nosso tour pela capital da República Tcheca começasse por ali, em seus arredores. O frio estava intenso, mas lá fomos nós, desbravar os principais pontos turísticos, começando pelo Mosteiro de Strahov, erguido sobre a colina de Petrin. Lá de cima você terá uma das vistas mais incríveis da cidade, repleta de telhados vermelhos. Aproveite para fazer lindas fotos.
No interior está a igreja da Assunção da Virgem Maria. Onde estão guardados os restos de São Norberto, o fundador da ordem Mostense, assim como um órgão tocado por Mozart várias vezes em suas visitas a Praga (Mozart possuía uma estreita relação com Praga, que pode ser vista no filme Amadeus, ganhador de 8 estatuetas do Oscar, do diretor tcheco Miloš Forman). O acesso à igreja só está permitido no horário das cerimônias.
Outro importante centro de peregrinação de Praga é o Loreto, que data de 1626 (embora o edifício tenha adquirido seu aspecto atual apenas décadas mais tarde). No seu interior fica uma réplica da suposta casa onde aconteceu a Anunciação à Virgem Maria. A casa original está em Loreto (Itália).
Continuamos nosso caminho rumo ao Castelo de Praga e ao descer as ladeiras em direção ao mesmo percebi muitos prédios sendo restaurados. A área é repleta de cafés, lojinhas de souvenires e casas de câmbio. Os restaurantes exibem cardápios expostos em tcheco e alguns poucos em inglês, todos incluindo o tradicional goulash (daqui a pouco falo mais sobre essa iguaria!).
A quantidade de pessoas que se aglomeravam mais à frente não deixava dúvida, estávamos a poucos passos do Castelo. A construção original foi inaugurada por volta do ano 880 pelo príncipe Borijov (842-894), conde da Boêmia, e – como costumava acontecer com a arquitetura medieval – sofreu várias reformas e ampliações. Hoje, a residência oficial do governo tcheco possui uma área total que ultrapassa os 70 mil metros quadrados. Seu interior é repleto de artes, com coleções de artistas mundiais em três diferentes galerias. O público não tem acesso ao salão principal do Castelo, que é utilizado pelo presidente da república em visitas oficiais.
O Castelo conta com diversas construções com um importante valor histórico e artístico. Esses são alguns dos mais destacados: Catedral de São Vito, Rua do Ouro, Antigo Palácio Real, Basílica e Convento de São Jorge, Torre Daliborka, Torre Negra, Torre Branca e Torre da Pólvora. A entrada ao complexo é gratuita. Ao Beco de Ouro e ao interior dos prédios é cobrado e custa entre 70 a 700 CZK. De hora em hora ocorre a troca da guarda e ao meio-dia a troca solene. Claro, nós ficamos ali, junto a todos os muitos turistas, para ver esse momento, que passou bem rapidinho, mas valeu!
Relógio Astronômico
Seguimos então para explorar mais, agora rumo à Cidade Velha (Praga é dividida em quatro: Cidade do Castelo, Cidade Pequena, Cidade Velha e Cidade Nova. Cruzamos a Ponte Carlos (Karluv Most) com muita calma. Ao longo da ponte você encontrará 30 estátuas instaladas dos dois lados, sendo que muitas delas são cópias, já que as peças originais estão no Museu Nacional de Praga e em Vyšehrad e foram construídas no início do século 17.
A primeira estátua foi colocada na ponte em 1683 e era a de São João Nepomuceno, que havia sido jogado no rio em 1393 por ordem de Venceslau IV e que no século 18 foi santificado. No lugar onde São João Nepomuceno foi jogado na água está sua estátua. Dizem que, quem faz um pedido colocando a mão esquerda na base da estátua terá o desejo realizado. Às vezes é preciso enfrentar filas para seguir este ritual. É proibido o tráfego de carros sobre a ponte. Artistas de todos os tipos aproveitam o grande vai e vem para expor suas obras e tocar instrumentos enquanto outros fazem caricaturas e retratos a lápis.
Poucos passos à frente chegamos à Praça Central, onde fica a Torre do Relógio, prédio da Prefeitura da Cidade Velha, que abriga o famoso Relógio Astronômico. A principal atração do relógio é o desfile dos 12 Apóstolos (como o cuco dos tradicionais relógios de parede) que acontece toda vez que o relógio marca a hora certa. O “Orloj” tem ainda uma esfera astronômica, que indica a hora e a posição do Sol e da Lua e uma esfera com medalhões, que representam os signos do Zodíaco. Eu fiquei ali, uns 40 minutos, até ver os apóstolos saírem às 17h!
Infelizmente, em janeiro deste ano, o Relógio Astronômico teve seu funcionamento interrompido para reforma. Todo o prédio ficou bastante danificado durante a Segunda Guerra, e alguns dos trabalhos de restauração do pós-guerra não foram feitos corretamente, precisando ser refeitos. A estimativa é que ele volte a funcionar até outubro.
Uma vez na praça aproveite o tempo para comprar lembrancinhas, comer um prato de salsichas e tomar uma cerveja. Atenção. Você é turista, mas na Praça da Cidade Velha vale agir como tcheco, ou seja, nada de beber cerveja em copo de plástico, tchecos bebem em canecas de cristal (ou vidro) – e de meio litro! Eu saí dali cheia de sacolas e com muitas bonecas matrioskas (aquelas bonequinhas que desmontam, umas dentro das outras).
O impactante bairro judeu
Em sua visita à Praga vale andar pelas ruas do bairro judeu (Josefov). Você vai reparar que existem placas douradas incrustadas nas calçadas. Elas registram nomes de moradores que se tornaram vítimas do Holocausto. Visite a Sinagoga Staronavá – com estilo gótico é a mais antiga da Europa, construída por volta de 1270 – e a Sinagoga Klausen, que hoje abriga o Museu Estatal Judaico Franz Kafka.
Outro ponto turístico (havia uma grande fila no dia em que estivemos lá) é o Cemitério Judeu. Este foi durante mais de 300 anos o único lugar onde era permitido enterrar judeus em Praga. Criado em 1439 (assim data a primeira lápide de Avigdor Karo), embora tenha crescido ao longo dos anos, nunca se estendeu o bastante, mantendo suas características intactas. Devido à falta de espaço, os corpos eram enterrados uns em cima dos outros (chegando a mais de dez amontoados). Hoje em dia podemos ver mais de 12.000 lápides e se estima que possa haver cerca de 100.000 corpos enterrados.
Menino Jesus de Praga
Em nossas andanças acabamos chegando à Igreja de Nossa Senhora da Vitória, que ganhou fama por conta da estátua do Menino Jesus de Praga, que ali se encontra desde 1641. O lugar se tornou alvo de peregrinações e, em 2009, recebeu a visita do Papa Bento XVI, que levou uma coroa de presente para a imagem e rezou por todas as crianças que são vítimas de violência de diferentes formas. Ao redor da igreja, diversas lojinhas vendem imagens do Menino Jesus de Praga de diferentes tamanhos para que você possa levar para casa uma lembrança do local.
Falando em fé, a Igreja de São Nicolau e a Igreja de São Tomás, são outros dois importantes pontos turísticos da cidade que valem a visita.
Cervejas: beba o quanto quiser (e aguentar!)
Não dá para competir com a República Tcheca quando o assunto é consumo de cerveja. Quando se trata de beber cerveja, ninguém supera os tchecos. Um novo estudo da Statista revelou dados sobre o consumo de cerveja no mundo. Em 2017, a média de consumo por pessoa na República Tcheca foi de 137,38 litros, uma quantidade enorme quando comparada a Polônia, que aparece logo em seguida, com 98,06 litros.
De acordo com a nossa guia Magda (uma senhora de uns 60 anos muito animada e que, claro, ama cerveja), em muitos lugares da República Tcheca a bebida é mais barata do que a água mineral ou com preços similares. Nos bares encontrei cervejas pelo preço médio de 45 CZK, no supermercado cerca de 15 CZK. Enquanto a água mineral variou entre 10 CZK e 35 CZK.
Em Praga, vale explorar a fábrica de cerveja e restaurante U Fleku. O estabelecimento é considerado o mais antigo e famoso restaurante da cidade, fundado em 1499. A fama foi conquistada graças a produção de uma cerveja preta especial. Você pode pagar o tour que inclui visita ao centro de produção, vídeos explicativos e muitas canecas de cerveja. Vale beber o quanto você aguentar por um preço único! Para completar, o lugar conta um terraço, um museu (dedicado à cerveja, claro!) e o legendário cabaré da antiga Praga. O restaurante tem espaço para mais de 1.200 clientes, uma verdadeira loucura!
Seguindo o tema cerveja, coloque em seu roteiro um dia na cidade de Pilsen, o bate e volta para Praga é tranquilo. Lá fica a fábrica da Pilsner Urquell, que oferece tour completo para os apaixonados pela bebida. Um programa legal até para quem, assim como eu, não é exatamente um amante da cerveja.
O passeio começa nas antigas dependências da Pilsner Urquell. Você poderá ver e comparar as salas de cozimento antiga e atual, terminando nas máquinas modernas que hoje engarrafam 120 mil garrafas por hora! De lá siga para o Museu da Cerveja, também de propriedade da empresa (embora com localização independente). Por fim, vá além e visite os tonéis subterrâneos da cidade, onde irá experimentar uma pilsen única: sem filtragem, sem pasteurização e tirada direto de tonéis para a caneca.
O amor dos tchecos pela cerveja é tanto que até tratamento de beleza a base do lúpulo e cevada existe por lá. Em Karlovy Vary, a 200 quilômetros de Praga, você pode mergulhar, literalmente, na bebida. Os spas do balneário usam a cerveja nos tratamentos estéticos. Se tiver disposto a pagar cerca de R$ 300 você pode colocar seu biquíni ou sunga e entrar numa jacuzzi onde a bebida é misturada com a água quente e ficar ali durante 1h.
Há ainda a opção para dois, que sai por R$ 460. Quanto mais amigos (no máximo 4), menor fica o valor. E obviamente você não vai curtir esses 60 minutos de bico seco, tão pouco beber uma água aromatizada como nos spas tradicionais, afinal, você está na República Tcheca. Ou seja, mais uma vez a cerveja é servida geladinha enquanto você desfruta de um banho quentinho!
Goulash, Trdelnik e waffers
A República Tcheca definitivamente não é para quem tem estômago fraco. Brincadeira à parte, o fato é que linguiças, salsichas e diferentes formas de porco fazem parte do dia a dia. Então aqui vai minha dica: esqueça a dieta! Entre todos os pratos um merece especial destaque, já que traduz a gastronomia tcheca: o goulash. Trata-se de um ensopado de carne (bovina ou de porco) feito com farinha, cebola e pimenta. Para acompanhar o knodel, um pão cozido em água, bem diferente do que temos no Brasil, ou batatas.
Além dos pratos salgados, você também encontra doces deliciosos. Ao caminhar por ruas e praças de Praga e das cidades vizinhas, um aroma delicioso toma conta do ar. Pode ter certeza que você está perto de um carrinho de Trdlo (ou Trdelnik). É um rolinho de massa assado e coberto com açúcar, canela e amêndoas. Uma verdadeira delícia, que vale experimentar! Além da versão original, há ainda opções com recheios variados, incluindo Nutella, ou seja, uma perdição.
Para completar, os waffers oriundos de Karlovy Vary são imperdíveis. Os Karlovarské Oplatky são um saboroso doce tradicional e muito popular. A sensação que temos é que eles derretem na boca de tão fininhos que são. Com certeza bem diferentes desses que vemos por aqui. São muitos os sabores, sendo os de chocolate, nozes e baunilha os mais pedidos. Nem preciso dizer que voltei com a mala cheia de caixas para dar como lembranças da viagem, mas admito, não resisti e algumas acabaram sendo abertas no caminho mesmo.